Porque é que as crianças pequenas mordem umas às outras e às vezes até a si mesmas?

26-07-2017

A criança morde com a finalidade de controlar uma situação, como uma brincadeira, para defesa pessoal ou simplesmente para chamar a atenção.

A criança poderá começar a morder durante o primeiro ano de vida, quando surgem os primeiros dentes. Não costuma ser estranho, porque o primeiro contacto dela com o mundo é oral, levando à boca tudo que encontra, para morder. É assim que os bebés identificam os objectos, experimentam sua textura, forma, tamanho e peso. No entanto, existem outros factores que levam a criança a reagir através de mordidas. A situação familiar influencia muito: brigas em casa, rejeição, tentativas de chamar atenção dos adultos, carência afectiva, disputa de brinquedos, espaço reduzido para brincar, dificuldades de sono.O morder surge, assim, como uma primeira forma de comunicação, e também como uma forma de aliviar a ansiedade, uma espécie de "válvula de escape".Mesmo em crianças mais velhas, entre os 18 e 24 meses, o morder raramente parece ser planeado. Surge, geralmente, quando a criança está demasiado excitada ou aborrecida, existindo uma perda de controlo, e como não consegue expressar-se de outra forma utiliza o morder.Os pais das crianças com este tipo de comportamento devem evitar as brincadeiras que expressem carinho mostrando os dentes e fingindo morder. Os filhos imitam a brincadeira, porque é agradável, com os amigos.Apesar de morder não ser 'anormal', no sentido de que uma em cada 10 crianças entre um e três anos morde, é um comportamento que necessita ser desencorajado desde o início. 

É previsível que uma criança pequena morda, os pais não o podem controlar, mas se não exagerarem, essa atitude será auto controlada e normalmente pára antes dos dois anos e meio. Muitas vezes o hábito de morder torna-se habitual devido às reacções excessivas dos adultos, que, para a criança, tornam o morder mais excitante.

A criança que é mordida

A criança que foi mordida precisa, obviamente, de ser confortada e da ferida tratada, se for o caso. É importante que a criança seja encorajada a defender-se e a exigir um pedido de desculpas. É necessário que a criança que é mordida aprenda a melhorar os seus reflexos, a expressar seu descontentamento e formas de defesa. A defesa não passa por incentivar a criança a "responder na mesma moeda" à criança que lhe morde. A criança não deve aprender a resolver os conflitos pelo meio da agressividade. Diga-lhe que o amigo não fez por mal e que ele não deve fazer o mesmo, mesmo que esteja muito zangado.Embora seja uma situação complicada para os pais, evite o rancor, pois a criança que morde não é má, e os seus pais também sofrem com medo que a criança seja discriminada pelos amigos e pelos outros pais, por isso é aconselhável não tirar satisfações com os pais da criança que mordeu. Deixe que, com a orientação dos adultos, as crianças se entendam. 

A criança que morde 

A criança que morde, muitas vezes, acaba por se considerar "má" devido à incompreensão e rejeição, quer por adultos ou outras crianças, e sentir que a única forma de obter interacção com outras crianças e a atenção dos adultos será encontrar "outra vítima em quem cravar os dentes".A criança não deverá sentir-se premiada com o comportamento inadequado, ou seja, não deverá usufruir daquilo que conquistou à base da mordida (ex. brinquedo).A criança que morde pede ajuda ou pede carinho. Geralmente, gosta das pessoas que morde e nem sempre sabe que aquilo causa dor - a vítima é só um alvo fácil. A criança que morde precisa de ser acarinhada, pois a sua agressividade descontrolada também a assusta.Após o conforto, o facto de encarar os limites, as consequências dos seus actos irão dar-lhe segurança, pois são importantes para que aprenda a associar as acções com os resultados.A criança deverá receber um não firme mas pacífico. Castigar a criança isolando-a, agredir, expressões faciais de insatisfação e raiva não irão funcionar, mas aumentar ainda mais o comportamento agressivo.

Poderá dizer de um modo calmo mas sério:· "Não posso deixar-te fazer uma coisa destas, morder não está certo".· " Não se morde. Nunca. Vais ter de brincar sozinha até seres capaz de pedir desculpa e controlares-te. Não posso deixar ninguém magoar-se e não posso deixar-te morder".· "Aquilo magoa. Não podes fazê-lo a mais ninguém. Quando estiveres mais calma, vais pedir-lhe desculpa. Na próxima vez, eu vou ajudar-te, antes que percas o controlo".· "Eu sei que te sentes mal por teres magoado o teu amigo. E sei que gostavas de poder voltar atrás, mas não é possível. Mas podes pedir desculpa e perdão. Sei que vais esforçar-te muito para não voltares a fazer isso. Todos sabemos. Ninguém gosta de magoar os outros assim"· Muitas vezes é necessário ajudá-la a compreender os sentimentos dos outros: "Vê como ela está triste. Sabes porquê? Eu acho que tu sabes. Quando a mordeste magoaste-a muito. E também a assustaste. Eu sei que ela gosta muito de ti e que quer ser tua amiga. Ela ficou surpreendida por a teres magoado tanto. E tu também".
Quando a criança estiver mais calma, vai poder perceber o seu acto, especialmente se os adultos conseguirem não mostrar as suas reacções. Mesmo quando a criança não demonstra culpa, não significa que não a sinta. Esta conversa deverá ser calma, pois é a criança que está descontrolada, não os pais.Os pais das crianças com este tipo de comportamento devem evitar as brincadeiras que expressem carinho mostrando os dentes e fingindo morder. Os filhos imitam a brincadeira, porque é agradável, com os amigos.Quando a criança que morde toma consciência de que a mordida dói ou aprende com os mais velhos outra forma de satisfazer seus desejos, o hábito deve desaparecer.


A importância do perdão É mais provável que a criança aceite a responsabilidade do seu comportamento quando é perdoada e aprende outras formas de comunicar, do que com as ameaças e gritos dos pais.A criança está preparada para pedir desculpas quando conseguir admitir que se sente mal pelo que fez, o que poderá não ser tarefa fácil. Por vezes a criança mais pequena poderá expressar que está triste através do olhar esperando que a mãe peça desculpas por ela. Já a mais velha poderá ter dificuldade em pedir desculpa, recusando-se a conhecer o mal que fez ou pondo a culpa noutra criança.Quando a criança se recusa a pedir desculpa poderá dizer-se " tens de ficar aqui enquanto os outros vão brincar. Tens de te sentir preparada para pedir desculpa e te controlar, depois disso podes brincar com os teus amigos ".O perdão deverá ser dado após o conforto, estabelecimento dos limites, das consequências e das desculpas.
O perdão é a garantia da criança de que há esperança que ela deixe de morder, que se controle e arranje melhores formas de comunicar e de se relacionar com os seus amigos.

Antecipar comportamentos A criança deverá perceber que existem sinais de aviso para este comportamento.Poderá perguntar-se: "percebes quando começas a sentir que vais morder alguém?" é provável que a criança não saiba responder, mas é uma forma de se auto questionar.De seguida, a criança ficará atenta se lhe perguntar: "É quando te zangas? Ou ficas excitado? Ou não consegues o que queres?". A criança estará então preparada para ouvir dizer que o facto de morder não resolveu nenhuma destas situações. Por fim, pode sugerir outros comportamentos: usar as palavras, pedir a ajuda a um adulto, utilizar um brinquedo para exteriorizar a sua agressividade.É normal que esta conversa não ponha fim às mordeduras automaticamente, é normal que a conversa se repita algumas vezes.O hábito de morder raramente passa para além da pré-primária.

Quando a criança não pára de morderO hábito de morder pode ser considerado parte do desenvolvimento
emocional da criança até no máximo 3 anos e meio. A criança que continua a morder para além dos 3 anos e meio, 4 anos poderá ter problemas mais sérios, em geral: dificuldades na comunicação, na compreensão das regras sociais e no controlo dos impulsos.Nestes casos é importante consultar um psicólogo infantil ou um pedopsiquiatra, para uma melhor identificação da problemática que está na origem deste comportamento e ajudar no controlo do mesmo.

Dr.ª Ana Brito | Psicóloga Clínica

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