Desconfinamento e Pré-escolar. E agora?

03-06-2020

Esta semana está a ser particularmente complicada para muitos de nós que enfrentamos agora uma nova fase de desconfinamento e, se era esperado por muitos, também provoca muita ansiedade a outros (ou a quase todos!). 


Para os pais que têm crianças em idade pré-escolar, a tarefa não está a ser nada fácil e por isso decidimos partilhar convosco algumas das dicas deixadas no nosso Webinar - Auto-regulação das aprendizagens e emoções em tempo de desconfinamento que decorreu no passado dia 23 de Maio. 


Perguntas como: Como gerir emoções aquando o acolhimento, realização de atividades lúdicas com redução de recursos lúdicos, alteração de formas de estar, explorar e conviver das crianças após 2 meses de confinamento? Como gerir o regresso à escola com crianças do pré-escolar? Como ajudar as crianças a aceitar a nova realidade escolar?

São aquelas a que tentámos dar resposta! 


Estamos numa nova realidade, mas acreditamos que, estando perante um contexto educativo de qualidade, que potencia o desenvolvimento da criança, é hora de voltar à creche!

Um facto inegável, é que todos nós, perante esta adversidade encontrámos novas formas de estar, conseguimos ser mais criativos, e essa questão será tão ou ainda mais verdade para as crianças e para a comunidade educativa. Não podemos ficar presos ao que não podemos fazer, ao que era antes e não voltará a ser, mas temos de nos focar no que iremos conseguimos fazer, mesmo repletos de restrições.

Temos de combater os nossos receios, ansiedades, e confiar! Confiar especialmente na equipa que acolhe a criança, e que sabemos, que são também figuras de referência.

Todos nós pretendemos que tudo corra bem, pais, educadoras, auxiliares, tudo farão para que ninguém saia prejudicado, pois o bem-estar de uns, dita o bem-estar dos outros, mais que nunca.

O distanciamento físico, que se tentará sempre que possível colocar, não ditará o distanciamento social e emocional, não será a mesma coisa, mas não tem de ser ditador de repercussões no desenvolvimento da criança.

É importante que os pais comuniquem previamente com as entidades, se assegurem de que os seus filhos estarão bem cuidados, como e quais serão as novas rotinas implementadas, as novas regras e o plano de contingência.

Os pais ao se sentirem seguros, passarão sem dúvida essa segurança aos seus filhos, facilitando assim o regresso ao espaço das brincadeiras, das aprendizagens, dos amigos e das cumplicidades.

Segundo as últimas orientações da DGS, a normal rotina da creche está garantida.

Os pais poderão descansar pois o colo, o mimo, a interação entre pares, entre adulto-criança, a partilha irão manter-se, obviamente existirão cuidados acrescidos, algumas restrições e novas formas de estar para que todos se mantenham em segurança.

O distanciamento social, as novas rotinas não poderão interferir no desenvolvimento, nas atividades lúdicas e pedagógicas, nos direitos da criança.

Certamente existirão crianças, que após dois meses de confinamento, demonstrarão maior ansiedade de separação, assim como os pais, o que é normativo.

Cabe aos pais ajudarem também a criança a fazer o "luto" pelo confinamento. Em muitos casos as famílias estiveram 24h sob 24h juntas, fortalecendo-se ainda mais o vínculo.

É essencial que transmitam, à criança, confiança na escola, que falem de forma positiva e esperançosa no regresso à creche/escola, no bom que é voltar a estar e brincar com os amigos.

Os pais, em casa antes do regresso, podem por vezes, deixar uns momentos a criança a brincar sozinha no quarto, para "treinar" a separação física (assegurando-a, que estão noutra divisão e já voltam); simular o regresso à creche através do brincar; falar com ela sobre o que a vai deixar triste/alegre, o que vai querer fazer quando voltar, quais as brincadeiras, como irá ser o seu primeiro dia.

As crianças, por norma, têm maior facilidade de adaptação, e conseguirão, de uma forma geral, facilmente reorganizar-se perante estas novas rotinas, com as suas educadoras e auxiliares, que agora usam máscara, mas continuam a sorri-lhes com os olhos!

O uso da máscara com crianças tão pequenas tem trazido bastante controvérsia, e sabemos que não poderemos negar, que a máscara terá condicionantes, omitirá em grande parte a expressão emocional, perder-se-ão sinais da comunicação, especialmente para as crianças que ainda não adquiriram a linguagem e beneficiam da leitura labial, mas são questões que poderão ser de alguma forma compensadas, como por exemplo, pelo tom de voz, pela gargalhada, pela repetição das frases.

Todos, miúdos e graúdos, estarão numa fase de aprendizagem, de perceber o que resulta melhor com aquela criança, com o grupo, e estes esforços serão sem dúvida feitos, pensados e retificados sempre que necessário. E como sabemos, as educadoras são excecionais em gerir o imprevisto, em desenvolver atividades com poucos recursos, em reinventar-se para motivarem, para chegarem ao coração das crianças, e este momento não será exceção.

Algumas estratégias podem ser colocadas em prática para minimizar algumas dificuldades que possam fazer-se sentir, como por exemplo:


  • A equipa pedagógica poderá enviar um vídeo à família, para que as crianças possam visualizar em casa, em que de forma breve "convidam" novamente a criança ao regresso, estando expetantes do mesmo, assim como estão todos os amiguinhos, indicando (colocar e retirar a máscara no vídeo) que agora utilizarão mais um elemento que só os super-heróis usam: uma máscara, que será uma grande proteção para todos, assim como terão ainda mais cuidados para que todos estejam sempre saudáveis.
  • Entrada e saída da escola feita pelas figuras de referência, contribuindo para a segurança emocional, dizendo à criança que agora ficará com os amigos e ao fim do dia irá buscá-la.
  • Não demonstrar angústia (pais e equipa) com o choro da criança ao chegar à creche, é normal existir maior ansiedade de separação nesta fase de readaptação.
  • O objeto de transição (objeto preferido da criança) caso exista essa possibilidade, poderá ser duplicado. Dado que não é possível levar brinquedos de casa, a criança poderá ter um brinquedo igual (brinquedo de conforto) na creche.
  • Para uma maior tranquilização da criança, a educadora, quando garantida a segurança, pode retirar por breves instantes a máscara, para que a criança veja a totalidade do seu rosto (ou ter a sua fotografia colada na sua bata). Também se poderá equacionar retirar a máscara ao contar uma história, desde que com o afastamento devido e cumpridas as recomendações, e existam outros adultos próximos (ex.auxiliares) que consigam orientar o grupo.
  • Explicar as novas rotinas e regras da sala às crianças, se possível de forma lúdica.
  • Nomear as emoções que as crianças podem estar a sentir e validá-las "percebo que estejas zangado porque o João não pode partilhar contigo o brinquedo, mas vamos tentar arranjar outro com que gostes muito de brincar".
  • Não criticar quando a criança não cumpre com as novas rotinas/regras, mas ajudá-la a compreender que estas foram alteradas e demonstrar como deve fazer agora, explicando que é importante cumprir e que se acredita que ela é capaz de o fazer.
  • Quando a criança cumprir com o que é esperado, elogiar.
  • Promover o afeto verbal "Gosto muito das minhas amigas Maria e Joana!"
  • Tentar seguir a rotina de um dia de creche. Não dar ênfase ao tema COVID, mas caso, ele surja nas verbalizações das crianças, deverá ser explorado, no sentido de tranquilizar possíveis inquietações.
  • O exterior, os espaços amplos, sempre que oportuno, devem ser aproveitados, sendo uma forma em que a diversão em grupo estará garantida, conseguindo manter o distanciamento físico (corridas, rebolar).
  • Criar atividades em que o produto final, seja a soma do trabalho de cada um, por exemplo um mural de pinturas.
  • É natural que as crianças estejam mais irritáveis, chorosas, agitadas, nos primeiros tempos, será necessária mais paciência e compreensão por parte de todos!

Força e bom regresso a todos!
Dr.ª Ana Brito
Psicóloga Clínica
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